CARLOS MALHEIROS DA SILVA
( BRASIL – ALAGOAS )
(Carlos Paurilio)
1904-1941
Carlos Paurilio, poeta malogrado, viveu nos últimos dias a existência marginal e infeliz de um Verlaine daquele recanto de província. Foi, de fato, um desajustado no meio sempre hostil que tanto amou e decantou em lindos versos se em crônicas expressivas e sentimentais.
Desarnou na escola primária da professora Augusta Tavares e no Colégio II de Janeiro, do professor Higino Belo, onde fez o curso secundário e o científico, então seriado, no antigo Liceu Alagoano.
Era filho do falecido musicista Hipólito Paurilio da Silva e de dona Antônia Malheiro da Silva.
Nasceu a 1 de agosto de 1904, na rua do Livramento, passando, porém, toda a sua infância na rua da Alegria, cantada por ele no soneto a que deu o título via pública, nos dias em que integrava a Academia dos Dez Unidos: “Quem teria sido esse Ouvidor Batalha / que tirou a alegria da minha rua?”
Publicou “Reflexos” e “Natura” (versos); “Idade dos Passos Perdidos”,
(novelas, e “Solidão” (contos), além de numerosas poesias se miniaturas, esparsas pelos jornais da província.
Dirigiu o panfleto “Nordeste”, com Joaquim Maciel Filho, em 1928, e as revistas “Novidade”, “Alvorada”, “Alagoas”; outros publicações efêmeras tiveram a sua colaboração, constante e vária como esse maldado dissipador de ilusões perdidas.
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AVELAR, Romeu de. Coletânea de poetas alagoanos. Rio de Janeiro: Edições Minerva, 1959. 278 p. Encadernado.
No. 08 717 Ex. biblioteca de Antonio Miranda
SOBRAL
Diante das ondas marulhosas e dos coqueiros farfalhantes
invento um silêncio que fala a mim mesmo.
As ondas vêm e vão em ritmos perdidos
e os coqueiros nostálgicos acenam aos navios.
Traço pensamentos graves na areia
para ter consciência de que sou efêmero,
Ali, uma senhorita, como verde dos olhos,
junto ao seu cavalete, pinta uma marinha.
O crepúsculo afunda-se no mar.
Os afogados vão ficar mais tristes.
Esqueço-me a soltar os sonhos como barcos
e a sacudir o coração para pescar poemas.
TARDE MOLHADA
Na tarde triste em que tu foste embora,
parece que o céu adivinhava:
choveu tanto lá por fora...
O choro continuado das goteiras
me embalava,
como se eu fosse ainda pequenino,
e lembrei-me de noites inteiras
em que a minha ama ninava um menino...
Ouvi a água cair, pesada e lenta,
sobre os telhados,
Sobre as árvores, sobre a gente que passava,
gente apressada e friorenta.
Na tarde triste em que tu foste embora,
choveu tanto, tanto, lá por foral,
Sobre as árvores, sobre os telhados,
que até os meus olhos ficaram molhados...
ELOGIO A UNS OLHOS AZUIS
Quando você veio ao meu encontro,
me olhava para o alto,
como se esperasse vinda do céu...
O céu estava plenamente azul.
Mas, de súbito, foi mudado
de matizes
e, em pouco, era tudo cinzento.
Não me venha falar de nevoeiro,
que é um passeador infalível
nessas tardes de inverno.
Não acredito em meteorologia
Bruxinha!
Você fez o céu cinzento,
você furtou todo esse azul
para encher os meus olhos...
CORAÇÃO QUE CHORA
Meu coração nascera sobre rosas,
Entre os lírios risonhos dos amores...
Sonhava ninfa para si, formosas,
Louras sirenas, ternas como as flores.
viu, certa noite, estrelas vaporosas,
Pelo azul espargindo resplendores...
Quis amá-las, mas todas ardilosas,
Lançaram-lhe do céu mágoas e dores.
Cantava madrigais pelos caminhos,
À traduzir a música dos ninhos
Com baladas e trovas e canções...
Mas, agora, seus carmes são sentidos,
As romanzas de outrora são gemidos:
E vive a desfrutar recordações.
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Página publicada em março de 2024
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